sexta-feira, setembro 22, 2006

Regresso às aulas



Esta semana foi marcada pelo regresso às aulas.
Para o André a escola é uma alegria.
Os meus filhos têm a sorte e a felicidade de poderem desfrutar de dois meses de férias.
Férias à séria, longe de casa, longe de escolas, Atls e afins.
Começa com 1 mês na praia com os meus pais, depois com quinze dias de praia connosco e mais quinze dias na aldeia com o pai.
E depois o regresso…. E mal o André regressa a casa ele já sabe que a Escola está perto… vai buscar a mochila, coloca perto da porta (o sítio onde fica normalmente em tempo de aulas) e pergunta uma série de vezes? "Escola"?
Sim, André, a escola começou.
E agora lá anda ele todo contente. Está na 3ª classe curricular, mas apenas para acompanhar os meninos pois ele ainda não consegue escrever bem o nome.
A esse nível o meu filhote ainda está a tentar pôr-se de pé, para depois tentar andar.
Para ele a escola é: vestir-se de manhã, por a mochila às costas, chegar lá, sentar-se na cadeira, pendurar a mochila, tirar o caderno… mas depois… depois é que são elas….
A concentração é pouca… a vontade… não sei…
Para tudo o resto, ele quer tentar tudo, experimentar sozinho…
Mas tentar escrever ou ler…
Penso que talvez seja por não ver logo resultados.
Vou esperar… e tentar ajudar….
Todas as manhãs me pergunta quem o vai levar à escola (normalmente é o kiko), quem o vai buscar (normalmente é o avô) e quem o vai buscar aos avós (normalmente sou eu).
Depois, pergunta se com a mana é igual.
A seguir pergunta se vou trabalhar para Lisboa.
Todos os dias de manhã, faz estas perguntas.
Sai à mãe. Gosta de planificar as coisas.
Ele ainda não fala muito, mas a esse nível tem feito mais progressos. Mas também só fala do que quer.
Quando à noite lhe pergunto como foi o dia, fica calado.
Depois pergunto: "Foi gira a escola André?"
"Foi"
Pergunto se esteve com a Terapeuta da fala (de quem ele gosta imenso)
Resposta:
- "Foi"
E o que fizeste com ela André?
"Foi"
O André tem imensa dificuldade em exprimir acções passadas com ele. Em contá-las.
Apenas vai conseguindo exprimir desejos
"- Vamos aos baloiços?"
Ou seja, fala mais do futuro. Do passado não.
Bom… costuma-se dizer: " Bola para a frente que atrás vem gente"
Olhos postos no futuro, filhote!

quarta-feira, setembro 20, 2006

Acreditar

Quando pensamos que a vida não nos pode trazer nada de novo, eis que ela nos surpreende. Ficar sozinha com os meus dois meninos não foi tarefa fácil mas sempre acreditei que íamos conseguir. A minha grande missão era e é fazer os meus filhos o mais felizes possível, dentro das circunstâncias da nossa vida.

Faz agora 5 anos que começamos essa nova etapa. Quando olho para trás, parece-me que foi ainda há mais tempo. O que aprendi, o que cresci, o que amadureci.

Quis o destino que esse percurso um dia fosse ainda mais acompanhado.
Quando o Kiko entrou na minha vida, vai fazer três anos, nem ele nem eu sabíamos onde iríamos chegar.
Não há palavras que descrevam o quanto ele é especial.
Decidimos caminhar juntos, sabendo desde o início que este nosso caminho está cheio de pedras e atravessa ribeiros.
Porque ambos tivemos um casamento falhado.
Porque ambos já vivemos, já sofremos, já aprendemos.
Porque este crescimento não começou a ser feito aos 20 anos, quando somos mais moldáveis mas sim agora muitos anos já vividos.
Porque ambos temos filhos.
Porque eles não são filhos do mesmo pai e da mesma mãe.
Porque uns vivem connosco e o outro só vem de 15 em quinze dias.
Porque o André adora de paixão o Bruno e não o "larga" sempre que estão juntos.
Porque o Bruno é jogador da bola e Sr. de si.
Porque a Catarina é a menina rabugenta e também muito decidida.
Porque temos ex-maridos não muito fáceis de lidar.
Porque não começamos juntos um projecto de família, mas acreditamos na nossa.
Porque agora sabemos que as coisas não são como esperamos.
Sabemos que as coisas falham.
Sabemos que cometemos erros.
Sabemos que esses erros podem ter consequência ao longo dos anos.
Sabemos que juntos temos uma hipótese.
Porque nos amamos e acreditamos que desse amor podemos fazer nascer muita coisa.
Porque os nossos filhos também acreditam.
Juntos já ultrapassamos muitas pedras.
E sabemos que há muitas mais.
Queremos ambos ter muita força para o conseguir e sabemos que depende de nós.
E é dentro dessa "consciência" que temos crescido.
Acima de tudo, porque
Acreditamos.




segunda-feira, setembro 11, 2006

Recomeçar

Há 5 anos um atentado mudou o mundo. Mais uma vez a prova real de que em poucos instantes tudo muda. Mas também a prova que podemos sempre recomeçar. Sempre diferentes. Com mais mágoas. Com mais receios. Com mais medos. Porque vivemos na pele algo de muito doloroso.

Quando o André nasceu, foi mais ou menos assim. Um avião bateu sem aviso nas minhas "torres". Elas ruiram enquanto eu ainda tentava perceber se tinha mesmo acontecido. A minha vida nunca mais foi igual. Com um bebé no berço em vez de sentir dentro de mim a felicidade de ser mãe, eu procurava limpar os escobros, tirar o pó. Tentava levantar-me e respirar. Tentava ver o azul do céu, mas só via nuvens negras. Tentava perceber se a vida ia continuar.
Percebi que a vida continuava sim, mas eu era uma sobrevivente. Tinha de lutar contra aquela dor imensa que nascia e vivia lá bem no fundo do meu coração. Em vez de estar num lindo arranha céus de felicidade e alegria com o meu bebé, caminhava com ele nos escombros dos meus sonhos. Há minha volta, era tudo belo e maravilhoso. Outros arranha céus existiam de todos os tamanhos irradiando beleza e felicidade com bebés perfeitos. Será que percebiam a sorte que tinham?

Será que conseguiam apreciar a beleza daquela felicidade total e imensa?
Com o meu bebé lindo no colo, decidi que iria voltar a contruir o meu arranha-céus. Seria diferente. Mas seria o meu e o do meu bebé. Juntos iamos conseguir encontrar a nossa felicidade. Não iamos deixar que a destruição nos fizesse mal.

E dia a dia a poeira desapareceu. Há duas coisas que me lembro dessa data. Quando liguei a uma amiga da faculdade e dar a noticia do problema do André e lhe pedi para ela dizer a todos os nossos amigos. Ela ligou de volta a dizer: "Queremos ir a tua casa ver o André, mas não sabemos bem como ir... se estás bem para ver gente...?". Percebi o estado de espírito deles. Era um momento de luto ou de alegria? Não tive dúvidas. Respondi: " O meu bebé nasceu. É altura de festejar". Não foi preciso mais nada. Apareceram lá nessa noite cheios de balões e com um peluche gigante. Falamos de tudo menos do problema dele. Foi bom! Pouco a pouco conseguia aliviar a poeira.
Outra coisa que me lembro foi que senti que nunca mais conseguiria rir. Dar aquelas gargalhadas alegres, bem do fundo da alma. Sentia que nunca mais me iria sentir assim... totalmente feliz....

Consegui dois meses depois. De uma piada, de alguém, não me lembro.

Mas consegui.
Hoje o meu céu está azul. Com algumas nuvens às vezes... claro, não pode ser sempre Verão.

Recontrui o meu arranha-céus. Com mais receios. Com a percepção que ele um dia pode ruir. Por isso aproveito cada andar dele. Cada pormenor. Cada momento de felicidade que ele me dá. Gozo aquilo que reconstrui e cada vez me lembro menos de como era viver no anterior. O que interessa é que o que aconteceu me vez apreciar muito mais a vida e todos os seus momentos.

terça-feira, setembro 05, 2006

As limitaçoes estão dentro de nós



Ter um filho diferente é acima de tudo, aprender a dar valores às coisas mais pequeninas. Saborear cada momento e viver cada conquista como se fosse a primeira. Quando este Verão pensei em comprar uma prancha de bodyboard para as crianças, confesso que pensei que o André não conseguisse ficar lá em cima muito tempo. Mas como sempre tentei que ele não deixasse de ter as mesmas oportunidades que teria se não fosse diferente, fui em frente. E ele teve direito á sua prancha, com t-shirt própria e tudo. E não é que ele adorou? Mais que adorou, o meu miúdo não largava a prancha e lá ia ele disparado nas ondas, muito direitinho e concentrado. E a cada onda que vinha, ele perguntava-me, repetindo o que eu dizia? "É boa?" E eu respondia: "É André... vai agora!" E lá ia ele, uma e outra vez, saborando a sua própria conquista, os seus pequenos avanços. E naqueles momentos, vemos como o mundo é realmente maravilhoso, como são estas alegrias que nos inundam de força e de amor e de coragem para enfrentar todas as outras coisas. E cada gargalhada dele era como uma fonte de energia a entrar no meu coração