segunda-feira, setembro 11, 2006

Recomeçar

Há 5 anos um atentado mudou o mundo. Mais uma vez a prova real de que em poucos instantes tudo muda. Mas também a prova que podemos sempre recomeçar. Sempre diferentes. Com mais mágoas. Com mais receios. Com mais medos. Porque vivemos na pele algo de muito doloroso.

Quando o André nasceu, foi mais ou menos assim. Um avião bateu sem aviso nas minhas "torres". Elas ruiram enquanto eu ainda tentava perceber se tinha mesmo acontecido. A minha vida nunca mais foi igual. Com um bebé no berço em vez de sentir dentro de mim a felicidade de ser mãe, eu procurava limpar os escobros, tirar o pó. Tentava levantar-me e respirar. Tentava ver o azul do céu, mas só via nuvens negras. Tentava perceber se a vida ia continuar.
Percebi que a vida continuava sim, mas eu era uma sobrevivente. Tinha de lutar contra aquela dor imensa que nascia e vivia lá bem no fundo do meu coração. Em vez de estar num lindo arranha céus de felicidade e alegria com o meu bebé, caminhava com ele nos escombros dos meus sonhos. Há minha volta, era tudo belo e maravilhoso. Outros arranha céus existiam de todos os tamanhos irradiando beleza e felicidade com bebés perfeitos. Será que percebiam a sorte que tinham?

Será que conseguiam apreciar a beleza daquela felicidade total e imensa?
Com o meu bebé lindo no colo, decidi que iria voltar a contruir o meu arranha-céus. Seria diferente. Mas seria o meu e o do meu bebé. Juntos iamos conseguir encontrar a nossa felicidade. Não iamos deixar que a destruição nos fizesse mal.

E dia a dia a poeira desapareceu. Há duas coisas que me lembro dessa data. Quando liguei a uma amiga da faculdade e dar a noticia do problema do André e lhe pedi para ela dizer a todos os nossos amigos. Ela ligou de volta a dizer: "Queremos ir a tua casa ver o André, mas não sabemos bem como ir... se estás bem para ver gente...?". Percebi o estado de espírito deles. Era um momento de luto ou de alegria? Não tive dúvidas. Respondi: " O meu bebé nasceu. É altura de festejar". Não foi preciso mais nada. Apareceram lá nessa noite cheios de balões e com um peluche gigante. Falamos de tudo menos do problema dele. Foi bom! Pouco a pouco conseguia aliviar a poeira.
Outra coisa que me lembro foi que senti que nunca mais conseguiria rir. Dar aquelas gargalhadas alegres, bem do fundo da alma. Sentia que nunca mais me iria sentir assim... totalmente feliz....

Consegui dois meses depois. De uma piada, de alguém, não me lembro.

Mas consegui.
Hoje o meu céu está azul. Com algumas nuvens às vezes... claro, não pode ser sempre Verão.

Recontrui o meu arranha-céus. Com mais receios. Com a percepção que ele um dia pode ruir. Por isso aproveito cada andar dele. Cada pormenor. Cada momento de felicidade que ele me dá. Gozo aquilo que reconstrui e cada vez me lembro menos de como era viver no anterior. O que interessa é que o que aconteceu me vez apreciar muito mais a vida e todos os seus momentos.

4 Comentários:

Às segunda set. 11, 11:58:00 da tarde 2006 , Blogger Grilinha disse...

Minha linda...estou ainda a digerir o que escreveste...a comparação. e só penso numa coisa: que pena não ser uma dessas tuas amigas...porque te teria dado a maior força. Estive noutro dia com uma linda menina com S.Down...tão querida, linda , esperta...estimulada...muito mais desenvolvida a nivel motor que o meu pequenino...incrível e fofinha...sÓ APETECIA DAR BEIJINHOS. A sensação é que preferimos que sejam dos outros...mas não, Deus escolheu-te porque sabia que tu serias capaz de desempenhar esse papel melhor que ninguém. E tens um menino lindo, diferente, cheio de batalhas para vencer...mas tens uma paisagem como nenhuma outra para apreciar. Aprecia-la....e eu estou aqui...a ajudar a erguer novo arranha céus. Um beijo cheio de amizade e admiração e obrigado por partilhares isto connosco.

 
Às quarta set. 13, 12:20:00 da tarde 2006 , Blogger Unknown disse...

Olá
Vim aqui através do blog da Grilinha e que bom que foi ela ter-nos dado conhecimento do teu cantinho.
Obrigada por partilhares a construção do vosso arranha céus connosco.
beijinhos e pensamentos (sempre) felizes
Cris

 
Às quarta set. 13, 06:11:00 da tarde 2006 , Blogger cloinca disse...

Eu sei que hoje estou muito "piegas"... demasiado sensível... mas as lágrimas correm-me pelos olhos.... o teu texto é LINDO!
Realmente não foi por acaso que o André te escolheu para seres sua mãe... és mesmo muito especial!!
Estou a começar a organizar mentalmente ideias que me vão dando por causa do "noss" livro... qualquert ideia que tenhas diz-me.
Depois, por email ou via msn encontramo-nos para conversar e discutir o assunto... todas nós!
Um beijão bem grande para ti!!

 
Às quarta set. 13, 08:14:00 da tarde 2006 , Blogger Avozinha disse...

Belíssimo, mãe especial!

 

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