sexta-feira, fevereiro 09, 2007

Quase 10 anos....


Faz agora 10 anos, faltava pouco mais de um mês para o meu menino nascer.
Era o 1º filho. Estava ansiosa, confesso que com algum medo do parto, porque o maroto não tinha dado a volta e tinha a cabeça pressa no meu estomâgo.
Era seguida na Maternidade Alfredo da Costa pois a minha médica fazia serviço lá e iria ter lá o meu bebé.
Estava também nesta altura a terminar as aulas de preparação para o parto, que foram maravilhosas, me ajudaram muitissimo e me preparavam para o meu bebé....
Estava a anos luz de saber as mudanças que juntamente iriam nascer com ele para mudar para sempre a minha vida.
Nunca, em nenhum dos exames se detectou qualquer desconfiança por mais minima que fosse....
Há dez anos eu era uma jovem futura mãe a caminho de um sonho.
Hoje, passados quase dez anos e com o meu menino a fazer quase 10 anos, já não me lembro da dor que invadia o meu coração, da angústia que senti, da impotência...
Mas lembro-me da coragem, daquela coragem que só nasce das fortes adversidades e que parece que nos levanta, nos alimenta e nos guia.
Quando me contaram (foi só a mim que disseram, ao resto da familia ninguém contou nada), senti fugir o chão, senti fugir o corpo, senti fugir o coração.
Depois voltaram todos com o peso da notícia e o olhar normal e distante do médico que nunca tinha visto e que apenas me disse:
"- Preciso que assine este papel pois achamos que o seu filho tem trissomia 21 e temos de lhe fazer umas análises o mais rapidamente possivel"
Eu nem consegui falar e ele saiu.
Fiquei sózinha no recobro sem saber o que pensar....
Valeu-me a fisioterapeuta que me tinha dado as aulas para o parto e que me foi visitar.
Foi ela que conversou comigo, quando eu sentia que nem a ouvia.
Só tive o meu filho no colo já na enfermaria.
Enquanto esperava por ele nem sabia como seria. Nem sabia o que era a T21.
Quando vi o meu bebé tão lindo, tão pequenino, só me lembro que o apertei contra o peito.
Era meu.
Mas não senti a alegria de ser mãe pela 1ª vez.
Senti que tinha de o proteger e amar.
E senti que o pai, o resto da familia tinham o direito de festejar aquele nascimento a 100%
Por isso não contei a ninguém.
Eles vieram, festejaram, brincaram, tiraram fotografias....
estranharam eu estar um pouco calada....
Mas acharam que tinha sido da epidural.
Só no dia seguinte contei ao pai do André.
Ele depois contou aos nossos pais e claro, foi um verdadeiro choque....
Eles sofreram muito em casa.
Eu também sofri, sózinha, calada.
Prometi ao meu filho que a mãe não iria chorar.
Pensei que ele precisaria do meu leite e eu não me podia descontrolar, ficar doente...
Proibi toda a gente de se queixar, de chorar ao pé do meu menino.
Ele precisava de alegria, de amor.
Não de choros e mágoas....
Já passaram 10 anos....
A 1ª etapa....
A etapa em que eles são crianças...
Esta já está filhote, e graças a Deus sem mágoa no coração quando recordo. a mágoa fugiu toda agora só existe a lembrança.
Vêem ai os próximos 10 anos...
A tua adolescência... dos 10 aos 20...
Assusta um bocadinho, sabias?
Onde vamos estar, filho?
Não sei o que vais conseguir fazer, o que vais conseguir conquistar....
O meu primeiro e grande objectivo é que continues a ser FELIZ
Tudo o resto será lucro
Amo-te muito filho!!!

4 Comentários:

Às sexta fev. 09, 05:45:00 da tarde 2007 , Anonymous Anónimo disse...

Compreendo muito bem a angustia que sentiste e a confusão de sentimentos.....Mas sei que para ti assim como para mim isso não passa de uma memória muito longiqua ofuscada pelo enorme sol que os nossos filhos fazem brilhar na nossa vida. Beijinhos. Luísa.

 
Às sábado fev. 10, 11:27:00 da tarde 2007 , Blogger Grilinha disse...

Minha querida

O meu caso foi diferente, mas o dia do nascimento do meu Pedrinho esteve longe de ser o melhor dos dias...
Cada dia que passa amo mais a diferença, meninos diferentes, pais que sabem o que é temer o futuro dos seus meninos...
Faz-nos saber aproveitar melhor cada dia. Eu adoro meninos com trissomia 21...Hoje se voltasse atrás na vida escolheria uma via muito diferente e dedicava-me a crianças diferentes e qa garantir que mesmo que não tenham pais maravilhosos como tu, que seriam sempre bem tratados e amados, como todas as crianças merecem. Beijinhos e muitos parabéns à mãe e ao André !

 
Às segunda fev. 12, 11:34:00 da manhã 2007 , Blogger Mamã disse...

Tens um filho muito especial! Nunca te esqueças disso!

Bjs

 
Às terça mar. 13, 09:33:00 da tarde 2007 , Anonymous Anónimo disse...

A aceitação é na verdade o caminho a seguir. Aceitação, não de resignação, mas de alegria, vitória, de seguir em frente e ...especialmente viver um momento de cada vez como sendo um momento especial.

Um abraço luminoso

 

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